Sujeira de Judas.
Olá pessoal, como estão? Estimo que bem.
O texto de hoje irá falar (como o próprio título sugeriu) sobre "sujeira". Entretanto, não se trata da sujeira de cômodos, por exemplo, é uma sujeira emocional, que transgride para o físico e se transforma em psicológica, aquela que fica após acontecimentos intensos e negativos. Já se passaram alguns dias desde a publicação do último texto, em uma live recente cheguei a mencionar se iria ou não publicar texto nessa quinzena, porque, bem, apenas quem escreve sabe que para o texto "sair do forno" é necessário que algumas ideias estejam previamente organizadas, e sendo sincera não sei se esse é o momento que estou vivendo agora. Mas, por outro lado, estou sentindo e vivendo tudo, estou viva, sinto algo renascendo aos poucos, ainda que eu não consiga explicar exatamente o que é. Então, desde já espero que gostem do texto e não tenham expectativas que seja algo leve heheh! Um abraço a todos e boa leitura, espero que gostem!
Nas navegações mais recentes, eu tentava ao máximo explorar os oceanos menos turbulentos, pois neles estavam todas as garrafas com boas memórias e respeito a um legado que até então eu tinha um carinho especial. Depois de tanto navegar, percebi que ao longo das expedições me deparei com um pirata infame, sem respeito e consideração. Por mais que eu tentasse zelar pelo legado, ele me mostrou que por vezes a falta de honestidade, integridade e honra de sua parte já não eram mais motivos da minha tristeza. Não íntegro ao final de uma longa navegação, diz muito sobre o marujo. Durante minha curta vida, pude perceber que a integridade e lisura na verdade são intrínsecas ao indivíduo, ou seja, não é possível ter sido honesto no começo e meio, e no fim ter deixado isso para trás. Posto isso, levanta-se a dúvida sobre toda a navegação, toda a navegação foi acompanhada de um pirata forjado, depravado.
Os sentimentos perpassaram a tristeza e decepção, tomando forma, portanto, o nojo e repulsa. Desde pequena inclinada ao mundo dos pensamentos, muito pensei sobre e as primeiras certezas que eu tinha eram relacionadas à minha confiança no pirata depravado. Hoje, o pirata depravado ganhou um nome, escolhido e pensado justamente na dignidade de sua pessoa. Judas, Judas Iscariotes, símbolo da desonra. E ouso dizer, inclusive, que a única coisa que separa os dois é a faixa de tempo de 2000 (e poucos) anos. Judas não se mostrou apenas corrompido, mas também orgulhoso, estava o tempo todo junto de Jesus, mas mesmo assim cogitava e pensava sobre como apunhalá-lo de alguma forma. Ele foi pior, até mesmo, que aqueles que em si não acreditam em Jesus como o verdadeiro Messias. Sua traição não refletiu apenas na decepção de Cristo, sabendo que ele não teria mais salvação, mas igualmente refletiu nos discípulos e seguidores de Jesus, que minimamente se sentiram incapazes e pequenos.
A passagem do pirata Judas Iscariotes na minha navegação trouxe inúmeras coisas, que antes talvez não fossem perceptíveis. Fui manchada com os pecados de Judas, sua marca suja foi deixada em mim, não se assemelha com um corte exposto, é mais que isso. É como se todos os dias eu tivesse que conviver com sua desonra, a sensação de algo não estar mais certo dentro de mim, a de estar suja por algo que não cometi. Houve um assalto onde minha dignidade foi tomada pelas raízes. Sujeira espiritual, parece que me relacionei com tudo que era de mais sujo e podre entre os seres humanos. Questionamentos de "será que me vendi a algo impuro?", me enchem de nós. Abandono, falsidade. A dor não se manifesta mais como um corte exposto, mas com essa sensação mortal de sujeira, de impureza, que me faz pedir de joelhos e derramando todas as minhas lágrimas ao divino que me limpe desse sentimento, misto de sujeira com vergonha, que me faz cogitar atear-me fogo e ver-me queimar junto com esse entulho sujo que você deixou para trás, marujo. Quantas vezes penso em esfolar meu corpo até que ele esteja limpo novamente. E me pergunto como segues sem remorso? Terás o mesmo fim que Judas? Judas, no fundo, sentiu a dor de sua escolha até o fim.
Fui contaminada pela ação de outras pessoas e de todas as outras pessoas sujas que você esteve em outras navegações, como se fosse impossível me livrar disso e das lembranças, que fazem eu me sentir cada vez mais distante de quem eu sou e tornam incapaz o meu retorno da pureza que me antes me pertencia. Entreguei tudo aquilo de mais sincero e puro que havia no meu coração, até mesmo sentimentos que nem mesmo eu sabia que poderia entregar a alguém um dia, no fim não foi deixada somente a sujeira, mas também questionamentos acerca de mim mesma, que me atormentaram como se eu estivesse em um hospício. Quantas vezes supliquei em alto mar, para que não houvesse silêncio, gritei na esperança de ser escutada, mas a resposta veio através da desonra, do disfarce de personalidade e um teatro que por tempos foi convincente. O barco ruindo por inúmeras vezes, eu estava sempre pronta para realizar os reparos, mas o fiz sozinha.
Há, porém, um pensamento que diz que não somos definidos pelo passado, mas sim pelo que somos agora e fazemos com as vivências do passado mas no agora. Com base nisso, eu afirmo que todos esses fatores não precisam ser o fim da minha história, mas sim o começo. Escolhi não carregar mais o fardo das velhas e frustrantes navegações, mas abraçar as novas águas que estão surgindo, limpando-me nelas e reconhecendo que esse é o primeiro passo para me libertar dessa prisão. Apesar da mancha suja ser profunda, reconhecer que ela existe é o passo nascente para a mudança. Há uma força maior naqueles que se levantam após quedas bruscas, que enfrentam o luto da alma e mesmo assim se dispõem a renascer, livres e limpos de algo que não lhes pertence.
Ele está me limpando e me preparando para as novas navegações, enquanto isso ele cuida de minhas feridas e me coloca sob seu manto de proteção e amparo, grande é.
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