As criaturas do oco.
Olá à todos! Como estão?
Retornei hoje com esse fragmento textual que está há algum tempo nos meus rascunhos, entretanto mesmo com o passar do tempo muitas coisas permaneceram.Tempo esse que também perdura com a presença da dor, a tal ponto que busco caracterizar ela com a beleza, mesmo que ela seja visualmente assustadora e exposta.
Mas há meses os dias começam junto aos demônios, que agora possuem nomes. Precisamos compartilhar o mesmo corpo, a mesma mente, precisamos lutar para ver quem irá ser mais forte e levar o bingo da vez, junto com a loteria do dia.
Normalmente resisto, porém existem dias em que acabo sedendo. Me deparando com o eco do vazio que reina há uma década. Formamos uma amizade, que já perdura. Essencialmente sufocante, me leva ao engasgo e no limite do que penso poder aguentar às vezes, são as armadilhas que ela prega na minha mente. Uma vez escutei que quando a angustia bate na porta, olhamos para o céu em busca de respostas. E apesar de encantador, azul e com todas aquelas formações que se movimentam de forma frenética, quando olho para lá, sinto o peso todo em cima dos meus ombros. Duas ou três horas onde a nascente do rio corre, às vezes parece ser suficiente para a contenção da correnteza. Os antigos costumavam dizer que a natureza se autorregula.
Essa amizade, ambígua, é estranha, já me acompanha há tanto tempo que me faz questionar se eu conseguiria me enxergar sem ela. Na contramão desse pensamento, eu agradeceria se eu pudesse acordar um dia e ter a oportunidade de não ter a presença da estranheza que me causa a presença dessa amizade, nem que fosse por 5 minutos.
Os doces me ajudam a conviver com os demônios, mas nunca matam a fome deles, constantemente me fazendo questionar do sentido do todo e se a resistência em algum momento irá valer a pena, pois lidar com a frustração de nunca conseguir alimentar a morte deles e saber que eles vieram para fazer morada, mesmo que essa não seja minha vontade, me atordoa.
A vida, no entanto, me mostra tantas formas da sua beleza, que aprecio de forma profunda e poética, lírica, por vezes. E esse olhar, por muitos anos, tem sido o meu andaime frente ao oco, a despersonalização. Mesmo lidando com a desrealização, eu busco as nuances da vida para olvidar o vão. Acreditar que somos um fragmento divino da natureza às vezes me conforta.
No fim da nota de hoje, farei memória a um artista ao qual estimo muito, Ian Curtis. Para além de me identificar com suas letras melancólicas, me identifico com a profundidade do seu olhar, o olhar de quem carregou muitas coisas e talvez nem ele próprio tenha compreendido a imensidão de suas emoções, o olhar de quem sentia muito mas se mantinha recolhido, porque no fim das contas, qual a finalidade de expôr toda a profundidade e dor que essas almas carregam, a sensação de incompreensão e o grito que parece nunca ser escutado, é silencioso, é doloroso e vagarosamente letal.
Hoje, com a sútil presença de still corners; https://open.spotify.com/track/3kjcc5PMtoymSpInmhSxUN?si=44FEPgR-T2iaRzZ8Z9Im4w
https://open.spotify.com/track/1YM3cVri0CmSX7c71gwALR?si=BSvb-_bNTBONXCWRFtRr9Q
Obrigada por lerem até aqui!
Até mais.
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