Minha experiência tímida e humana dentro da igreja católica.

Olá, pessoal! Tudo bem?

Estimo que sim!

    Hoje trago um post diferente, não exatamente um texto como os outros, mas uma espécie de relato íntimo que vivi (não pela primeira vez) mas mais intensa neste ano. O título já resume um pouco do que será abordado, mas antes, gostaria de pedir que não realizem a leitura de forma velada, velada de dogmas, de religião propriamente, mas sim no sentido de humanidade, de perplexidade da alma, avanço da alma e do poder das virtudes fraternas acima dos dogmas. Espero poder conseguir transmitir ao menos um pouco da experiência que tive. 

2019 - Contato Preâmbular

    Em 2019, quando eu ainda era uma jovem adolescente de 14 anos, certo dia, estava de passagem pelo centro da cidade, o que já era rotineiro, tendo em vista que a escola onde cursei o segundo grau também era no centro. Nessa época, ainda, eu podia compartilhar momentos de renovação, reconciliação e recomeços com o meu pai, que, anteriormente, havíamos enfrentado momentos de rupturas, dores e mágoas. Mas o momento era propício, apesar de nova, eu estava aprendendo sobre perdão e sobre a dor, de certa forma ela era familiar. Esse ano, 2019 me marca igualmente porque foi um dos últimos momentos que tive com ele antes da pandemia nos impossibilitar de manter contato e posteriormente por ele ser acometido por uma doença desconhecida até então por nós. E falo brevemente do meu pai, pois era ao encontro dele que eu estava indo. O caminho era curto. Nesse caminho, ao passar em frente a Catedral de São Pedro (Igreja e Diocese histórica para o estado do Rio Grande Do Sul, será explicado mais à frente) algo me convidou para conhecer a igreja, ainda que eu não fosse e não seja católica, também nunca fui de família ou pais católicos, arrisco dizer que mal orar/rezar eu sabia, ainda mais naquela época. A única coisa que sempre tive foi vontade de evoluir meu espírito, e trabalhar as virtudes interna e externamente. A dor do luto e da perca, ainda aos 11 anos, me fizeram simpatizar e flertar com o espiritismo, quase como uma filosofia de vida que me acompanha até hoje. O convite foi bem recebido, ou melhor, foi sentido. Me direcionei a Igreja, e ao entrar lá, além de me deparar com a beleza dela, senti uma paz muito grande, muito mesmo, como jamais tinha sentido antes. Ainda lá dentro, me sentei, e fiquei ali por um tempo, tímida e muito acuada, afinal, eu mal sabia rezar um pai nosso ou uma ave Maria. Entretanto, passando um tempo isso não me impediu de me conectar com o silêncio divino e rezar, ainda que fosse do meu jeito e com a minha fé, questionada por alguns, compreendida por outros, dentro do que eu carrego comigo, tudo está na intensão. Demonstrei, obviamente, meu respeito ao espaço e às imagens. Rezei e finalizei a reza com a santíssima trindade, um dos poucos costumes eucarísticos que eu conhecia. Cerca de 6 anos se passaram, então provavelmente eu não me recordo fielmente do que foi dito na reza, mas me lembro claramente que quando abri os olhos, além de me sentir em paz, eu estava muito emocionada, meus olhos tinham lágrimas, que não se tratavam de tristeza. Ainda naquele dia, dentro da Catedral, uma senhora se dirigiu à mim (o que, por coincidência ou não, sempre ocorre quando visito este espaço) conversou comigo, que também não me recordo, mas era uma espécie de benção e acolhimento, logo depois ela foi embora. E ali fiquei mais algum tempo. Esse foi meu primeiro contato com esse espaço, primeiro de muitos que vieram subsequentemente, sobretudo no ano de 2019. Passar pelo calçadão sozinha, apenas para poder rezar e me conectar com a minha espiritualidade, minha paz de espírito e um espaço que acolhesse de forma humana o que já existia de desconforto naquela jovem adolescente. Situação, que eu em si, nunca havia presenciado, já que os contatos com a igreja que eu tinha até então eram sempre com as igrejas evangélicas, instituição à qual ainda mantenho firmes críticas e distância, mas respeito. 

Meses se passaram, o ano de 2019 se findou, dando espaço ao novo ano de 2020, que ainda não sabíamos, mas ficaria marcado na história. Meu costume de rezar na Catedral permaneceu no cenário pré-pandêmico, sempre sendo enriquecida com a paz do local e as trocas humanas e afetuosas que construía ali. Nesta época, eu ainda não tinha conhecimento de santos e nenhum costume da eucaristia, mas sempre que possível ia até o local, não deixando de lado o respeito e pureza das minhas rezas. 

Em março de 2020, começaram a surgir os primeiros indícios de não normalidade, a quarentena, que durou dois anos, mudou completamente a vida dinâmica da sociedade. A minha não foi diferente. Meu costume então ficou adormecido.  Em algum momento, não delimitado, passei a integrar algumas comunidades online espíritas, pois estava passando por processos específicos e precisava de ajuda mediúnica para fechar meu campo mediúnico (aos que acreditam), pois com 15 anos, eu não estava sabendo lidar com muitos acontecimentos espirituais da época. Ciça, o nome da figura principal que mais me acolheu nessa época, ela em Minas Gerais, e eu no Sul do Rio Grande Do Sul. Atuava e ainda atua no pronto-socorro espírita, todos os dias me auxiliava, trocamos inúmeras mensagens e ali ela ia me conduzindo com sábias palavras, em um processo que foi demorado, custoso, mas muito bonito. Dentro dessa comunidade espírita na qual fui acolhida, novamente encontrei um forte fragmento do catolicismo, quando me convidaram à participar do ciclo de 21 dias de oração para Arcanjo Miguel, o Santo protetor e intercessor contra mal. O ciclo de orações do Santo Miguel costuma ser destinado à limpezas espirituais, mas por algum motivo ele passou a me acompanhar para além da limpeza e proteção. Em 2021 tive meu primeiro contato com ciclo de 21 dias de oração, passando a realizar normalmente durante as manhãs (já sabendo que realizar essa oração durante a noite me trazia insônia, mas não era uma insônia ruim, era uma espécie de vigília). Muitas coisas aconteceram durante esses 21 dias, e após eles também. Vi a limpeza acontecer, vi coisas acontecerem de um dia para noite e de forma totalmente fluida, clareza mental, conforto, a sensação indescritível de segurança. Eu não sabia - ainda - mas Arcanjo Miguel viria a ser o Santo à qual sou devota até os dias de hoje, sempre que possível lhe dedicando uma vela azul ou branca e rezando seu ciclo de orações. Sempre costumo dizer que minhas rezas e orações raramente são pedindo algo, mas sempre agradecendo, eu agradeço por muitas coisas, até mesmo pelas coisas/situações que são ditas ruins, com São Miguel não é diferente. Inclusive, no dia de hoje, agradeço e com a presença do meu terço, que depois de tanto tempo eu adquiri, também de forma muito curiosa.

Já em 2023, com 18 anos, devota de Arcanjo Miguel e sempre agradecendo pela sua proteção, sou surpreendida através de um sonho, com a aparição de um Santo muito conhecido pela comunidade no geral, Santo Antônio. Em uma aparição tímida, em um sonho claro e curto, onde ele me mostrava uma data, uma sequência de números até então estranha. Curiosamente ou não, 15 dias após esse sonho, eu pude entender melhor o porquê ter sonhado com Santo Antônio, que de fato não podia ter sido mais claro, mesmo que eu não fosse devota do mesmo e muito menos Crismada. Mas foi acolhedor. E vim a agradêce-lo por isso, firmando uma vela e também pessoalmente na Catedral de São Pedro. Ainda que não saiba concretamente hoje o objetivo de Santo Antônio em me mostrar a tal data visto o fim das circunstâncias. Mesmo assim, agradeço.

2025 - O acolhimento humano e as verdadeiras virtudes que acredito e tive contato na Diocese

    Apesar de já ter pincelado aqui alguns pontos sobre a minha saúde, nunca me aprofundei muito sobre, principalmente por se tratar de um processo íntimo e complexo que eu enfrento há muito tempo. Entre o a ano de 2024 e 2025 eu passei a apresentar um declínio (já esperado) mas mais agudo que das outras vezes. As causas são desconhecidas, igual a muitas coisas que eu sinto, todos os dias eu desbravo um pouco mais do oceano do desconhecido. O declínio me fez passar por um período de reclusão hospitalar, já que eu precisava do acompanhamento atencioso da médica responsável. O tempo, indeterminado. Dividido em duas reclusões, a primeira foi de longe a pior. 15 dias, com visita de amigos, parentes, mas mesmo assim assustadora, incerta, muito dolorosa e gélida mesmo diante das maiores temperaturas já registradas em um verão. Natal e ano novo olhando os corredores neutros e sem vida, com a cabeça cheia e vazia ao mesmo tempo. Não era apenas dentro do quarto que eu não conseguia ver a luz, naquele momento eu não estava conseguindo ver e gerir minha melhora, estava cansada, sem dormir, com pesadelos e confesso que até mesmo sem fé em qualquer resquício de espiritualidade que me restava. A lógica (errada, ou nem tanto), que segui naquele momento, foi pedir à um dos médicos que me desse alta requerida, pois meu esgotamento era gritante, eu precisava ficar sozinha, ainda que esse não fosse o melhor caminho. Quando fui liberada da primeira reclusão de saúde, eu me sentia indigna, fragilizada, precisava de respostas em meio ao caos e sem observar que o próprio caos já é uma resposta. O caos é o começo, e não é em vão que o raio cai na Torre. É necessário. O caos precede a melhor versão que já existe no inconsciente e precisa se materializar no consciente, aqui. Nem tudo é fácil e rápido. Mas é assim que funciona (talvez isso em breve seja tema de um novo texto). Entretanto, eu não compreendia dessa forma, e não estava só afastada da minha espiritualidade, eu estava afastada de mim mesma, minha única proximidade agora era com o meu então diagnóstico, e também foi necessária essa proximidade, afinal, precisamos aprender a conviver juntos e de forma harmônica. Uma das maneiras de encontrar respostas era saindo pela cidade, porque também acredito que boa parte das respostas que precisamos não está somente em nós, mas também na observação do outro, nas trocas que temos com os outros, por mais pequenas que sejam, toda troca é construtiva. Todo calor humano é valoroso. Nesse dia em específico, tive a oportunidade de dar um último abraço em uma pessoa que já não se encontra mais na minha vida. Foi um momento simbólico, doloroso, necessário e que me levantou muitas reflexões. Inevitavelmente não pude negar meus impulsos humanos, já estava fragilizada, e esse fato corroborou ainda mais. Chorei, choro intenso, que perdura, que lenços não cessam o grande volume de lágrimas. Sentei por um momento, em uma praça pública próxima à Catedral, e eu já sabia, eu recebi um novo convite, mas dessa vez, diferente e muito inusitado, que ainda, mesmo depois de meses, me surpreende de forma positiva. Lá estava eu novamente, entrando na Catedral, depois de um longo tempo, mas a sensação era a mesma, paz. Porém, dessa vez, fui acolhida pela fiel responsável pela secretaria da Diocese, que de pronto ligou ao Frei responsável pela Catedral. Ele não estava, mas estava à disposição para me acolher, e em cerca de 15 minutos ele chegou à Igreja. Humano, sem julgamentos. Eu estava sentada chorando quando ele chegou. Calmamente ele perguntou se eu era a moça que estava a espera dele, respondi timidamente que sim. Discreto, ele me encaminhou para uma sala, lá, ele perguntou meu nome e se apresentou. Evidentemente não pude esquecer seu nome, Gil. De primeira, ele perguntou se eu estava ali para me confessar, respondi que não, afinal não sou Crismada e não entendo integralmente os ritos da Igreja Católica. Expliquei que não frequentava a Santa Missa da Diocese e nem estava ligada diretamente à nada da Igreja Católica, mas que eu tinha fé era devota de Arcanjo Miguel. Frei Gil me ouviu por cerca de 50 minutos. Muito mais do que me ofertar escuta, Frei Gil fez eu me sentir humana novamente, contou fatos de sua vida pessoal e momentos que ele passou e ainda passava que eram iguais aos meus, contou o relato se sua irmã, que vive com a mesma condição que eu. Não negou a ciência, não me julgou, me fez sentir conectada com a verdadeira essência de Cristo, que sempre acreditei, mas acabava me distanciando por conta dos contatos com a Igreja evangélica. Frei Gil orou por mim, se preocupou se eu sairia de lá em paz, mas saí de lá sentindo muito mais que paz. Eu era humana novamente, sem dogmas ou autoridades para me diminuir ou reduzir minha condição a algo maléfico. Voltei pra casa chorando, mas de emoção. Ainda acho que não consegui agradecer a altura, mas tenho certeza que isso expôs a natureza do grande líder religioso que ele é. Ele não sabe, mas as palavras dele, que se fixaram na minha mente até hoje, me salvaram de muitas situações ruins, me ajudaram a me acolher de forma mais humana. 

Mas por que estou compartilhando isso tantos meses após o ocorrido? 

A notícia que mais repercutiu no mundo recentemente foi o falecimento do Papa Francisco. O Papa progressista, que incomodou muitos conservadores Católicos (e acreditem se quiser, os evangélicos), não era apenas progressista. Mario Bergoglio deixou um legado humano, de respeito, humildade, simplicidade, fé e esperança. Se preocupou não apenas com os conflitos, enxergava a importância sobre sermos figuras políticas, assim como foi Jesus, questionar dogmas e sistemas centenários (e isso se evidenciou ainda mais no rito do seu velório), se preocupou com os jovens, em aproximar os jovens não propriamente à Igreja, mas aproximá-los uns aos outros, trazendo a esses uma mensagem de fé, de perseverança, instigando seus sonhos e autenticidade. Nos provou que apesar de representar a autoridade maior da Igreja Católica, ele era simples como todos nós, ele tinha emoções como todos nós, apreciava boas piadas, amava as crianças, falava sobre as crianças atípicas (a liberdade indisciplinada como o mesmo afirmou em tom bondoso e de bom humor), sobre respeito, sobre igualdade e principalmente sobre valorizar aquilo que vêm do coração, essa é a verdadeira lição, nas palavras do próprio, que, como sempre, se mostrou pensativo nesta lição. Não perdemos apenas um Papa, uma autoridade da eucaristia, perdemos um bom ser humano, guiado e iluminado para trazer as verdadeiras lições do evangelho de Jesus. Pessoas como Mario Bergoglio, Frei Gil, representam um ponto de referência social e humano que deveria ser de interesse a todos nós. Enquanto alguns grupos políticos desejavam sua morte, na sua última aparição, Papa Francisco já muito debilitado, falava novamente sobre fé e sobre a paz mundial. E são esses líderes, tanto católicos, quanto espíritas, que me inspiram e enriquecem minha jornada espiritual, eles não supervalorizam os dogmas como fonte total do desenvolvimento espiritual, mas sim as virtudes. E poucos hoje buscam isso para seus caminhos, aliás, poucos hoje pensam no espiritual, que dirá no seu desenvolvimento. Em tempos onde a individualidade mesquinha e egoísta reina,  ver pessoas e figuras que valorizam a plantação das sementes das virtudes é emocionante, um bálsamo de esperança. Me fixo nessas virtudes, às quais acredito fielmente serem fonte de conexão com o divino, que é subjetivo para cada um, mas o princípio, a essência, é essa. Continuo trabalhando cada vez mais no sentido das virtudes, e me utilizando do maior espaço sagrado que tenho, o silêncio, que também é divino, libertador, enigmático mas cheio de respostas. É belo. 

Curiosidades finais sobre a Catedral de São Pedro (que por um período também já foi um hospital)

- Foi a primeira igreja construída no estado (início das obras em 1755).

- Estilo barroco tardio, com projeto de José Fernandes Alpoim

- Já recebia cultos em 1756, mesmo inacabada.

- Em 1763, durante invasão espanhola, teria sido saqueada e usada como hospital

- Cogitou-se sua demolição entre os séculos XIX e XX.

- Demolição autorizada em 1937, mas evitada pelo tombamento nacional pelo IPHAN em 1938.

 - Elevada à categoria de catedral em 1972.

- Restaurada entre 1996-1997 e novamente entre 2007-2008.

- Acervo inclui manuscritos iluminados, paramentos sacros, cerâmicas, porcelanas e faianças.

- Peças foram doadas pelos imperadores Dom Pedro I e Dom Pedro II, que visitaram o local duas vezes cada.

- Apesar da simplicidade externa, motivo pela qual foi muito desdenhada por viajantes europeus, possui belos lavores de talha, estatuária, candelabros de bronze, lustres de cristal, móveis antigos

fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Catedral_de_S%C3%A3o_Pedro_(Rio_Grande)


Foi isso, pessoal! Como falei anteriormente, hoje um texto diferente, mas muito significante para mim, como de costume, deixarei ao fim um link de uma música, como falei um pouco sobre minha proximidade com o catolismo, deixarei uma cantigo gregoriano e uma arte sacra, pois afinal tudo é arte (texto, música, pinturas e imagens) e tudo isso em um lugar só e ainda melhor, né? 


Abraços fraternos à todos! 


https://youtu.be/RSLalb-t6UQ?si=nhGcgafuU9wV_Vsc




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