Onde se enterram as memórias
O lugar estava coberto por escombros. Não havia sinal de presença humana por ali. O silêncio parecia antigo. Aos poucos, fui observando o entorno; cruzes retorcidas, estátuas de anjos com asas quebradas, escrituras antigas em pedras gastas pelo tempo. Tudo exalava um ar de abandono solene.
Lápides encobertas de poeira, grades de ferro enferrujadas, muros rachados. Era um cemitério. Mas não qualquer um. Esse estava em ruínas, como se tivesse sido varrido por uma guerra recentemente, embora nenhuma fumaça ou som ecoasse ali. A sensação era estranha: não era exatamente ruim, nem boa. Apenas intensa. As emoções me atravessavam como se algo estivesse sendo revelado, embora eu não soubesse o quê.
Continuei andando entre os destroços, tentando entender o motivo de estar ali. Eu não carregava flores, não buscava por ninguém. Tampouco havia um funeral acontecendo. E mesmo assim, meus pés continuavam andando entre as lápides como se guiados por uma lembrança esquecida. Era um cemitério para mortos, mas não apenas os mortos de carne. Mortos simbólicos. Histórias enterradas. Rupturas.
Deixei o local em silêncio, passando pelo portão de ferro entreaberto e pulando um muro baixo coberto. Do outro lado, encontrei a rua.
A rua também estava em ruínas. Havia entulhos. Tudo parecia parado no tempo. Ainda assim, não me soava estranho. Pelo contrário, era como se eu já tivesse estado ali, ainda que não conseguisse lembrar quando. O lugar me causava uma estranha familiaridade.
Foi então que percebi algo em minhas mãos:
Um livro.
Eu não lembrava de tê-lo pego. Olhei ao redor, como quem procura explicações. Nada. Com cautela, o abri e então compreendi. Não era apenas um livro. Era um álbum de fotos. E não de qualquer pessoa. Eram nossas fotos. Suas e minhas. Fotografias antigas, momentos congelados em páginas desbotadas pelo tempo. Risos, passeios, olhares, toques. Memórias nossas.
Fiquei ali, comovida, folheando aquilo que parecia mais vivo que tudo ao meu redor. O cemitério, afinal, não enterrava apenas corpos, enterrava histórias, capítulos, versões de mim que existiram contigo. E, mesmo em ruínas, esse lugar guardava o que talvez pulse.
Bem, acho que é autoexplicativo, no mínimo.
E então, eu acordei
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O texto de hoje, diferentemente dos outros, não me aprodundarei muito sobre.
Entretanto, estimo que todos estejam bem e que tenham gostado!
Até breve!
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